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Principal contratação da temporada europeia, Ronaldo foi pontual para ampliar o domínio da Juventus na Serie A

Na contratação mais bombástica da janela de verão desta temporada, Cristiano Ronaldo deixou o Real Madrid após quase dez anos de recordes, títulos e muitos gols para aceitar um novo desafio no futebol italiano, ao vestir as cores da Juventus. A pechincha paga pela Vecchia Signora – pouco mais de € 100 milhões de euros – deixou o negócio ainda mais surpreendente e mostrou que as fronteiras locais da Itália já eram pouco. Era preciso vencer a Europa. Os dois vice-campeonatos continentais recentes, ambos sob comando de Massimiliano Allegri, mostravam que o objetivo não era impossível, e os torcedores juventinos chegaram a sentir os dedos tocarem a “orelhuda” após a atuação de gala de Ronaldo contra o Atlético de Madrid nas oitavas da Ajax e teve de se contentar em mais uma vez comemorar apenas troféus domésticos. A conquista de mais um scudetto valeu novas marcas para o clube e para a estrela maior da companhia, que mesmo poupado em muitos jogos e em fase de adaptação, deixou sua marca no oitavo título italiano consecutivo da Juventus.

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No início, bastaram três jogos sem marcar para que alguma desconfiança surgisse. Mas logo na quarta partida, contra o Sassuolo, Ronaldo marcou duas vezes. “Os gols saem como ketchup”, diz uma famosa frase do craque. E assim aconteceu, ao menos na Serie A, com 14 gols durante a primeira parte do campeonato e com a Juventus invicta. Mas não eram apenas os gols que empolgavam, mas Ronaldo atuava com uma desenvoltura que há muito não se via. Embora jogue na ponta-esquerda durante a maior parte do tempo, o português invade a área constantemente em busca do melhor posicionamento para receber. Sempre foi assim no Real Madrid e continuou na Juventus, mas Ronaldo passou a ter mais participação em outras fases do jogo, ajudando a construir as jogadas desde antes da intermediária, não se limitando a ser apenas um fator de contra-ataque, e até mesmo relembrando a época de United, onde a máquina de marcar gols ainda era algo distante e os dribles e firulas na lateral satisfaziam o ego, do jogador e da torcida. 

Coletivamente, porém, mesmo com uma campanha irrepreensível, a equipe de Allegri já dava sinais de esgotamento tático. O treinador se destacou pela variedade de esquemas. Na Juventus, fez quase de tudo, usando uma formação com três zagueiros ou com a linha de quatro;  um ataque com dois, três ou até quatro componentes; e sempre um meio-campo muito combativo e de qualidade, ainda que mais burocrático que outros expoentes do futebol europeu. Desde que Ronaldo chegou, entretanto, o trabalho ofensivo não se encaixou como se esperava. É difícil saber se isso aconteceu por conta da presença de Cristiano, mas a tentativa de emular o 433 de Zinedine Zidane se mostrou infrutífera na maior parte dos jogos com essa formação e tirou ainda mais a criatividade da equipe. Ronaldo também não conseguiu encontrar o parceiro ideal para ser seu escudeiro. No Real Madrid, a associação com Marcelo era irresistível, algo que não chegou nem perto de acontecer com Alex Sandro. No ataque, nem Mario Mandzukic nem Paulo Dybala conseguiram ter a efetividade que Karim Benzema tinha como coadjuvante.

Apesar de tudo isso e mesmo com um futebol abaixo de temporadas anteriores, a Juve colecionou vitória atrás de vitória. E teve em Cristiano Ronaldo o homem de ataque decisivo que tanto se esperou dele. Em jogos complicadíssimos, o camisa 7 apareceu para salvar o time bianconero, especialmente no fim do ano passado, tendo marcado gols importantes nos jogos contra Torino, Atalanta e Sampdoria, além de outros como contra a Empoli, no primeiro turno e contra a Lazio, mais recentemente.

Na segunda metade do campeonato, com a chegada das fases decisivas da Champions, Ronaldo passou a ser poupado periodicamente, e ainda contou com uma lesão sofrida durante as Eliminatórias para a Euro 2020, o que acabou colocando o português algumas posições atrás na briga pela artilharia. Com 19 gols até o momento, Ronaldo persegue Duván Zapata (20), Krzysztof Piatek (21) e Fabio Quagliarella (22). O camisa 7 também seguiu sendo um dos principais assistentes, com 8 passes para gol, atrás apenas de Suso, do Milan (9) e Mertens, do Napoli (10).

Mas com o título assegurado após a vitória sobre a Fiorentina por 2 a 1, no último sábado, 20, uma artilharia vai apenas abrilhantar ainda mais a representatividade da conquista do italiano. Para a Juventus, que alcançou a marca de oito títulos seguidos, algo inédito na liga; para Allegri, que se tornou no segundo técnico com mais scudettos na história (6 contra 7 de Giovanni Trapattoni); e para Ronaldo, que se tornou o primeiro jogador a ganhar as ligas inglesa, espanhola e italiana. Natural que, mesmo com tudo isso, a expectativa inicial da relação Juventus-Ronaldo não tenha se cumprido e tenha decepcionado alguns. Mas há outros capítulos a serem vividos e pontuais correções, que possam ser tão pontuais quanto os gols de Cristiano Ronaldo, podem fazer da Juventus desta década um time histórico nas noites europeias.

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